segunda-feira, 14 de novembro de 2011

PONTIFÍCIO CONSELHO PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

O TESTEMUNHO CRISTÃO NUM MUNDO MULTI-RELIGIOSO:

RECOMENDAÇÕES DE CONDUTA


PREÂMBULO


A missão pertence à essência da igreja. A proclamação da palavra de Deus e o testemunho da sua palavra são essenciais para todo o Cristão. Ao mesmo tempo, é necessário fazê-lo a partir dos princípios do evangelho, com respeito e amor pleno para com todos os seres humanos.

Ciente das tensões entre pessoas e comunidades de diferentes convicções religiosas e das variadas interpretações do testemunho Cristão, o Conselho Pontifício para Diálogos Inter-religiosos (PCID), o Conselho Mundial das Igrejas (WCC) e, a convite do WCC, a Aliança Evangélica Mundial (WEA), encontraram-se durante um período de 5 anos para refletir e produzir este documento com o objetivo de estabelecer uma série de recomendações de conduta para o testemunho Cristão ao redor do mundo. Este documento não tem a intenção de ser uma declaração teológica sobre missões, mas sim, de abordar problemas práticos associados com o testemunho Cristão num mundo multi-religioso.

O propósito deste documento é de encorajar igrejas, conselhos de igrejas e agências de missões para refletir sobre as suas práticas atuais e para usar as recomendações deste documento e preparar, onde forem apropriadas, as diretrizes para as suas testemunhas e missões entre as diferentes religiões e aqueles que não professam nenhuma religião em particular. Esperamos que os Cristãos ao redor do mundo estudem este documento à luz das suas próprias práticas ao testemunharem a sua fé em Cristo, tanto em palavras como em ações.

O FUNDAMENTO PARA O TESTEMUNHO CRISTÃO

1. Para os Cristãos é um privilégio e uma alegria poderem responder com mansidão e temor a qualquer um que vos pedir a razão da esperança que há em vós (cf. 1 Pedro 3:15).

2. Jesus Cristo é a testemunha suprema (cf. João 18:37). O testemunho Cristão é sempre feito através do compartilhamento, que se transforma em proclamação do reino, serviço ao próximo e em uma doação total de si mesmo, mesmo que isso culmine na cruz. Assim como o Pai enviou o Filho no poder do Espírito Santo, da mesma forma os cristãos são enviados em missões para testemunhar através de palavras e ações sobre o amor do Deus trino.

3. O exemplo e os ensinamentos de Jesus Cristo e da igreja primitiva devem servir de orientação para as missões Cristãs. Por dois mil anos os Cristãos têm tentado seguir os caminhos de Cristo, através da pregação das boas novas do Reino de Deus (cf. Lucas 4:16-20).

4. Ser uma testemunha Cristã num mundo pluralistico inclui o envolvimento num diálogo com pessoas de diferentes religiões e culturas (cf. Atos 17:22-28).

5. Em alguns contextos, viver e proclamar o evangelho é difícil, há muitos impedimentos ou pode até mesmo ser proibido, mas ainda assim os Cristãos são comissionados por Cristo para continuar fielmente em solidariedade uns com os outros ao testemunharem sobre ele (cf. Mateus 28:19-20; Marcos 16:14-18; Lucas 24:44-48; João 20:21; Atos 1:8). 

6. Se os Cristãos se envolvem em métodos inapropriados no exercício da missão, recorrendo a meios enganosos e coercivos, estarão a trair o evangelho e podem causar sofrimento aos outros. Tais acontecimentos exigem um arrependimento e lembram-nos da nossa necessidade da graça contínua de Deus (cf. Romanos 3:23).

7 Os Cristãos afirmam que enquanto for responsabilidade deles, testemunhar sobre Cristo, a conversão é um trabalho essencialmente do Espírito Santo (cf. João 16:7-9; Atos 10:44-47). Eles reconhecem que o Espírito sopra aonde quer e de uma forma que o ser humano não pode controlar (cf. João 3:8).

PRINCÍPIOS

Os Cristãos são chamados para aderir aos seguintes princípios na medida em que eles buscam cumprir o comissionamento de Cristo de maneira apropriada, particularmente dentro de contextos inter-religiosos.

1. Agir no amor de Deus. Os Cristãos acreditam que Deus é a fonte de todo o amor, e consequentemente ao testemunhar sobre Deus, eles são chamados a viver vidas de amor, amando o seu próximo como a si mesmo (cf. Mateus 22:34-40; João 14:15).

2. Imitando Jesus Cristo. Em todos os aspetos da vida, e especialmente no seu testemunho, o Cristão é chamado para seguir os exemplos e os ensinamentos de Jesus Cristo, partilhando o seu amor, dando glória e honra a Deus, o Pai no poder do Espírito Santo (cf. João 20:21-23).

3. Virtudes cristãs. Os Cristãos são chamados a viver uma vida íntegra, caridosa, cheia de compaixão e humildade, e para superar toda arrogância, condescendência e desprezo (cf. Gálatas 5:22).

4. Atos de serviço e justiça. Os Cristãos são chamados para agir de maneira justa e amar gentilmente (cf. Miquéias 6:8). Eles ainda são chamados para servir os outros e ao fazê-lo devem ver Cristo em cada irmão e irmã (cf. Mateus 25:45). Atos de serviços, tais como o fornecimento de educação, saúde, serviços de auxílio, atos de justiça e luta pelos direitos são uma parte integral da pregação do evangelho. A exploração de situações de pobreza e necessidade não têm lugar nas campanhas Cristãs. Os Cristãos deveriam denunciar e afastarem-se de todas as formas de aliciamento financeiro, incentivos em dinheiro e recompensas em resposta às suas ações de serviço.

5. Discernimento na ministração de cura. Como parte integral do testemunho do evangelho, os Cristãos praticam a ministração de curas. Eles são chamados a exercitar o discernimento ao realizar tais ministrações, respeitando de maneira plena a dignidade humana e assegurando que a vulnerabilidade das pessoas e as suas necessidades de cura não sejam exploradas.

6. Rejeição da violência. Os Cristãos são chamados para rejeitar toda forma de violência, seja ela psicológica ou social, incluindo o abuso de poder, ao testemunhar. Deve-se também rejeitar a violência, a discriminação injusta ou repressão por parte de qualquer autoridade religiosa ou secular, incluindo a violação ou destruição de locais de adoração, símbolos ou textos sagrados.

7. Liberdade de religião e de crença. A liberdade religiosa incluindo o direito de professar publicamente, praticar, propagar e de mudar de religião, parte da própria dignidade do ser humano que está fundamentado na criação de todos os seres humanos à imagem e semelhança de Deus (cf. Gênesis 1:26). Assim sendo, todos os seres humanos têm direitos e responsabilidades iguais. Onde a religião é instrumentalizada para fins políticos, ou onde a perseguição religiosa acontece, os Cristãos são chamados para se envolverem como testemunhas proféticas, denunciando tais ações.

8. Respeito e solidariedade mútua. Os Cristãos são chamados para se comprometerem a trabalhar com todas as pessoas em respeito mútuo, promovendo juntos a justiça, a paz e os bens em comum. A cooperativa inter-religiosa é uma dimensão essencial de tal compromisso.

9. Respeito por todas as pessoas. Os Cristãos reconhecem que o evangelho desafia e enriquece as culturas. Mesmo quando o evangelho desafia certos aspetos da cultura, os Cristãos são chamados para respeitar todas as pessoas. Os Cristãos são também chamados para discernir elementos nas suas próprias culturas que são desafiadas pelo evangelho.

10. Renunciando aos falsos testemunhos. Os Cristãos devem falar de maneira sincera e respeitosa; devem ouvir a fim de aprenderem e compreender as outras crenças e práticas, e são encorajados a reconhecer e apreciar aquilo que é verdade e bom neles. Qualquer comentário ou abordagem crítica deve ser feita de maneira que haja um respeito mútuo, assegurando-se de que não haja falso testemunho com respeito às outras religiões.

11. Assegurando o discernimento pessoal. Os Cristãos devem reconhecer que o ato de mudar a religião de alguém é um passo decisivo e deve ser acompanhado de tempo suficiente para uma reflexão e preparação adequada, através de um processo que assegure uma liberdade pessoal plena.

12. Construindo relacionamentos inter-religiosos. Os Cristãos devem continuar a construir relacionamentos de respeito e confiança com as pessoas de diferentes religiões para facilitar uma compreensão, reconciliação e cooperação mútua e profunda para o bem em comum.

RECOMENDAÇÕES

A Terceira Consulta organizada pelo Conselho Mundial de Igrejas com o apoio da Aliança Evangélica Mundial da Santa Fé do PCID e com a participação das maiores famílias Cristãs da fé (Católica, Ortodoxa, Protestante, Evangélica e Pentecostal) e agindo num espírito de cooperação ecuménica para preparar este documento para a consideração das igrejas, do corpo confessional regional e nacional e de organismos de missões, mas principalmente para aqueles que trabalham em contextos inter-religiosos, recomenda que esses grupos:

1. estudem os problemas levantados nesse documento e onde for apropriado,  formulem diretrizes de conduta com relação ao testemunho Cristão que possa ser aplicado nos seus contextos específicos. Quando for possível, isso deverá ser feito de maneira ecuménica e em consulta com os representantes de outras regiões.

2. construam relacionamentos de respeito e confiança com pessoas de todas as religiões, particularmente nos níveis institucionais entre igrejas e outras comunidades religiosas, envolvendo-se em diálogos inter-religiosos constantes como parte do seu compromisso Cristão. Nos contextos, onde anos de tensão e conflito possam ter criado suspeitas e quebra de confiança entre as comunidades, o diálogo inter-religioso pode propiciar novas oportunidades de resolução de conflitos, restauração da justiça, cicatrização das memórias, reconciliação e a construção da paz.

3. encorajem os Cristãos a fortalecer a sua própria identidade religiosa e fé enquanto vão se aprofundando no conhecimento e compreensão sobre as diferentes religiões, e façam isso levando em consideração as perspectivas dos membros dessas religiões. Os cristãos devem evitar a apresentação inapropriada de crenças e práticas de pessoas de outras religiões.

4. cooperem com outras comunidades religiosas envolvendo-se na luta pelos direitos inter-religiosos na procura da justiça e do bem comum e quando for possível, estar lado a lado em solidariedade com pessoas em situações de conflito.

5. apelar para os seus governos a fim de assegurar que a liberdade de religião seja devidamente e amplamente respeitada, reconhecendo que em muitos países as instituições religiosas e as pessoas são impedidas de exercer a sua missão.

6. orem pelos seus próximos, para o seu bem-estar, reconhecendo que a oração é parte integral de quem nós somos e o que fazemos, assim como para a missão Cristã.



APÊNDICE:

O pano de fundo do documento 

1. No mundo de hoje existe uma colaboração crescente no meio dos Cristãos, assim como entre os Cristãos e os seguidores de diferentes religiões. O Conselho Pontifício para Diálogos Inter-religiosos (PCID) da Santa Fé e o Programa do Conselho Mundial de Igrejas sobre o Diálogo Inter-religioso, assim como a cooperação da (WCC-IRDC) tem um histórico sobre tal colaboração. Dentro dos exemplos dos temas nos quais o PCID/IRDC colaboraram entre si no passado temos: O Casamento Inter-religioso (1994-1997), a Oração Inter-religiosa (1997-1998) e a Religiosidade Africana (2000-2004). Este documento é o resultado do seu trabalho em conjunto.

2. Existe um aumento na tensão inter-religiosa no mundo de hoje, incluindo violência e perdas de vidas humanas. Fatores políticos, económicos e outros, têm um papel importante nessas tensões. Os Cristãos também estão ocasionalmente envolvidos nesses conflitos, tanto de forma voluntária como involuntária, às vezes são eles que sofrem perseguições, mas noutras, como aqueles envolvidos em atos de violência. Em resposta a isto, o PCID e o IRDC decidiram abordar os problemas que fazem parte de um processo em comum a fim de produzir recomendações compartilhadas para a conduta do testemunho Cristão. O WCC-IRDC convidou a Aliança Evangélica Mundial (WEA) para participar neste processo, e eles o fizeram de bom grado.

3. Inicialmente houve duas consultas: a primeira em Lariano, na Itália em 2006 foi intitulada “Avaliando a Realidade”, onde representantes de diferentes religiões partilharam as suas visões e experiências sobre a questão da conversão. Eis uma declaração feita durante a consulta lida em parte: “Nós afirmamos que, embora cada um tenha o direito de convidar outros a um entendimento de sua fé, isto não deve ser feito de forma a violar o direito e as sensibilidades religiosas de outros. A liberdade religiosa impõe sobre nós uma responsabilidade de que não é negociável o respeitar a fé de outros e não só a nossa, e de nunca denegrir, difamar ou deturpá-las a fim de demonstrar a superioridade de nossa fé”.

4. A segunda consulta, uma consulta Inter-cristã, aconteceu em Toulouse, na França em 2007, a fim de refletir sobre os mesmos problemas. Questões sobre Família & Comunidade, Respeito ao Próximo, Economia, Propaganda & Competição e Violência & Política foram discutidas a fundo. Os problemas pastorais e missionários que circundam estes tópicos tornaram-se o pano de fundo de uma reflexão teológica e dos princípios que foram desenvolvidos neste documento. Cada problema tem a sua própria importância e merece uma atenção ainda maior do que o que podemos oferecer através dessas recomendações.

5. Os participantes na terceira consulta Inter-cristã encontraram-se em Bangkok, na Tailândia, do dia 25 ao dia 28 de Janeiro de 2011 e finalizaram este documento.
 
VN

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

XXXVII Aniversário do RCC em Portugal-Ensinamentos

Fátima, Igreja da Santíssima Trindade, 4, 5 e 6 de Novembro de 2011

Ensinamentos do Pe. João Carlos Almeida (SJC)
(Pe. Joãozinho)

Maria conduzida pelo Espírito Santo



O Espírito conduziu Jesus


O Espírito Santo conduziu os Apóstolos